Estratégias nutricionais para máximo desempenho da fêmea lactante e da leitegada
Baixo peso do leitão ao nascimento, desuniformidade de leitegada, aumento da mortalidade neonatal, baixo peso ao desmame, perda de peso excessiva da fêmea lactante, aumento do intervalo desmame-cio, queda de desempenho reprodutivo nos partos subsequentes. Quem nunca foi confrontado por esses desafios, que atire a primeira pedra.
A fase de maternidade/lactação é considerada a mais complexa do sistema de produção de suínos. Essa, engloba duas categorias completamente distintas em termos fisiológicos e metabólicos (fêmeas lactantes e leitões neonatos) e, nos últimos anos, vem sendo extremamente desafiada pelo aumento do número de leitões por leitegada e limitação fisiológica da fêmea suína de suprir as crescentes demandas dos leitões por colostro e leite.
Em termos fisiológicos e nutricionais, o colostro é essencial para a sobrevivência e desenvolvimento neonatal pois consiste na principal fonte de energia, imunidade passiva (IgG e IgA), nutrientes, hormônios, fatores de crescimento e enzimas. O colostro é caracterizado como a secreção mamária produzida nas primeiras 24 horas pós-parto, seguido pelo leite. O colostro possui maiores concentrações de proteínas totais e imunoglobulinas, e menores concentrações de lactose e gorduras quando comparado ao leite (Farmer e Quesnel, 2018).
Tabela 1: Composição do colostro e leite em função do intervalo de tempo relativo ao parto (Farmer e Quesnel, 2018).
Colostro | Leite | ||||||
Tempo relativo ao parto | 0 h | 12 h | 24 h | 36 h | 72 h | 17 dias | |
Matéria seca (%) | 27,3 | 22,4 | 20,6 | 21,4 | 21,2 | 18,9 | |
Proteína bruta (%) | 17,7 | 12,2 | 8,6 | 7,3 | 6,1 | 4,7 | |
Gordura total (%) | 5,1 | 5,3 | 6,9 | 9,1 | 9,8 | 8,2 | |
Lactose (%) | 3,5 | 4,0 | 4,4 | 4,6 | 4,8 | 5,1 | |
Energia (kJ/100g) | 260 | 276 | 346 | 435 | 468 | 409 | |
IgG (mg/mL) | 64,4 | 34,7 | 10,3 | – | 3,1 | 1,0 |
Em virtude da importância do colostro para resposta imune, processo termorregulatório e desenvolvimento neonatal, um consumo mínimo de 250 a 300 g de colostro por leitão nas primeiras 24 horas de vida deve ser preconizado para garantia da vitalidade e desempenho dos animais. De acordo, estudos evidenciaram significante redução da mortalidade neonatal e aumento do peso ao desmame em leitões que consumiram maior quantidade de colostro nas primeiras 24 horas de vida (Figura 1).
No entanto, o intenso melhoramento genético para aumento do número de leitões por leitegada tem resultado em consistente diminuição da ingestão de colostro e leite pelos leitões e, consequentemente, em diminuição do desempenho e aumento da mortalidade pré-desmame. Isso ocorre pois a capacidade produtiva da fêmea lactante não é proporcional ao tamanho da leitegada. Assim, uma redução de 30 g no consumo individual de colostro tem sido reportada para cada leitão adicional em leitegadas numerosas (Devillers et al., 2007). Também, quanto maior a leitegada, maior a incidência de disputas pelos tetos, brigas para estabelecimento de hierarquia, desuniformidade de leitegada e incidência de leitões de baixo peso. Esses fatores reduzem a quantidade de kg produzidos/fêmea/ano e, consequentemente, a produtividade e lucratividade cadeia produtiva.
Esse quadro pode ser agravado em condições de estresse e desafios ambientais que afetam negativamente a ingestão de alimento pela fêmea lactante, tais como temperatura ambiente, desafios sanitários, práticas nutricionais e de manejo incorretas. Em países de clima tropical, o estresse por calor é considerado o principal fator limitante de desempenho para fêmeas lactantes. Quando expostas a temperaturas ambientais acima de 18oC, as fêmeas reduzem o consumo de alimento com consequente aumento na mobilização de reservas corporais, redução na produção de leite, e falhas reprodutivas subsequentes. Por exemplo, o aumento da temperatura ambiente de 20 para 25oC está associado a uma redução de 750 g/dia no consumo de ração pela fêmea, 1135 g/dia na produção de leite, e uma diminuição de 400 g do peso vivo do leitão ao desmame (Ribeiro et al 2018).
Atenta às necessidades do cliente e na vanguarda de soluções para máximo desempenho produtivo e econômico, a Delacon, parceira da Cargill em aditivos para nutrição animal, desenvolveu uma tecnologia para melhoria da fisiologia e desempenho da fêmea em lactação e da sua leitegada. O Fresta F consiste em um blend de aditivos fitogênicos microencapsulados que aumenta a digestibilidade dos nutrientes e o consumo alimentar das fêmeas em lactação (Figura 2), o teor de gordura, lactose e imunoglobulinas do colostro (6 horas pós-parto), e o desempenho da leitegada. A suplementação de Fresta F também atua na redução da resistência à insulina e incidência de diabetes gestacional. Todos esses fatores contribuem para melhoria do desempenho produtivo e reprodutivo da fêmea suína que se traduz em ganhos econômicos e produtivos para o suinocultor.
Outra estratégia nutricional consiste na suplementação de aminoácidos específicos que regulam as principais vias metabólicas para melhoria do desempenho, saúde, lactação e reprodução dos animais. De forma consistente, a suplementação de triptofano durante o terço final da gestação e durante a lactação tem contribuído para aumento do consumo de ração e produção de leite, diminuição da mobilização corporal, e aumento do ganho de peso da leitegada (Miao et al, 2019). O triptofano é precursor do neurotransmissor serotonina que atua no estímulo do apetite e controle da resposta ao estresse (ansiedade, agressão, irritação, dor). Assim, sua suplementação está diretamente relacionada à melhoria do consumo alimentar e desempenho durante a lactação. Também, a suplementação de arginina tem se mostrado promissora para melhoria da vascularização da glândula mamária e produção de leite, e estímulo do desenvolvimento neonatal (Rodrigues et al., 2021; Cui et al., 2017).
Adicionalmente, em condições de diminuição de consumo de ração na lactação, por exemplo em situações de estresse por calor, uma estratégia nutricional consiste em aumentar a concentração dos nutrientes da ração por meio da suplementação com óleos e gorduras que, além de aumentar o valor energético da dieta, contribuem para redução da produção de calor associada à alimentação (incremento calórico). Também, deve-se preconizar pela redução do teor de proteína bruta das dietas e suplementação com aminoácidos livres com base no conceito de proteína ideal. Essas estratégias contribuem para aumento do consumo alimentar e diminuição da perda de peso corporal da fêmea em lactação e melhoria do desempenho reprodutivo nas fases subsequentes.
Por fim, premissa básica para o bom desempenho consiste na formulação de dietas precisas, de acordo com o estado fisiológico e às exigências de mantença e produção (colostro e leite) da fêmea lactante e da leitegada. O cenário é desafiador, mas muito próspero quando utilizamos de conhecimento e tecnologias para melhoria dos índices produtivos e econômicos de cada sistema de produção.