Qualidade de mistura: Razão ou Emoção?
Certa vez em um treinamento interno aqui na Nutron-Cargill, sobre relação interpessoal, fizemos um exercício onde deveríamos exemplificar a diferença entre pessoas com comportamento/ações mais “Racional” versus “Emocional”, tínhamos que criar uma forma simples de explicar tais diferenças, e apresentar para o grupo. Nossa equipe resumiu que, pessoas com o modus operandi “Emocional” é como um grande chefe de cozinha, que sempre tem uma “pitada” de algo a mais fora da receita (tipo segredo), para deixar seu prato com características únicas! Já as pessoas “Racionais” são como o processo de uma padaria, ou seja, tem que ter perfeição em executar a receita nos mínimos detalhes, pois caso não siga corretamente a receita a massa do pão desanda!
Será que o processo de mistura de dietas em confinamento está mais conectado a qual situação?
Uma das atividades mais importantes de uma operação de confinamento está localizada dentro das Fábrica de ração (ou praça de alimentação), lá são feitas inúmeras batidas (ou receitas) diariamente, que precisam estar exatamente como o Nutricionista formulou. Imagine que ao formular uma dieta o Nutricionista caracterizou os animais (sexo, raça, peso…), planejou o objetivo de ganho de peso e consumo, selecionou os alimentos, verificou a matriz nutricional dos ingredientes, ajustou os parâmetros dos níveis máximos e mínimos dos nutrientes para alcançar tais objetivos, as equações de requerimentos e predições fizeram sua parte, com muita ciência envolvida, e pronto! A dieta (receita) está otimizada!
Agora, essa dieta está chegando na boca dos animais como o Nutricionista formulou?
Cada batida de alimentos deve conter a mesma proporção dos ingredientes, que garanta a mesma nutrição para todos os lotes que receberem essa batida. Uma dieta total uniforme tem inúmeras vantagens potencial, e manter tal garantia de uniformidade desse processo depende de inúmeros fatores tais quais:
- Ordem de carregamento dos ingredientes;
- Tempo de mistura;
- Manutenção/conservação dos misturadores;
- Capacidade / enchimento do equipamento;
- Inclusão do ingrediente na dieta;
- Tamanho de partícula;
- Aderência e densidade dos ingredientes;
- Nivelamento do equipamento;
- Utilização de ingredientes líquidos;
Uma vez entendido toda a importância dessa operação, é comum observarmos nas fazendas uma certa negligência na checagem da qualidade da mistura, os pontos de atenção citados acima as vezes não são discutidos, e muito menos verificados e checados ao longo do tempo, e a forma de se carregar a dieta é determinada muito mais por conveniência (costume) do que por constatação técnica e quantificação da melhor forma de se fazer. Por isso conhecer esses pontos de atenção ajudará na busca de se obter o melhor padrão de mistura em cada operação.
Buscando na literatura trabalhos sobre esse assunto é comum encontrar citações de pesquisadores que comprovam a relevância do tema. Oelberg (2013) forneceu evidências de que o carregamento (enchimento) do misturador, o tempo de mistura e a ordem de preenchimento afetam a distribuição do tamanho das partículas ao longo do cocho e a uniformidade da mistura. A variação das batidas é controlada com uma operação adequada do misturador, que inclui fatores como ordem de enchimento (sequência de colocação dos alimentos no misturador), tempo de mistura e protocolo de mistura (Rippel et al., 1998).
Dentro das estratégias para avaliar a qualidade de mistura, podemos encontrar desde formas mais simples até as mais complexa de realizar, onde as mais comuns vistas sendo aplicadas no campo são:
- Avaliação visual da dieta ao longo do cocho;
- Seleção da dieta pelos animais;
- Teste de peneiras ao longo da descarga;
- Coleta de amostras e envio para laboratório;
- Checagem de matéria seca ao longo da distribuição
- Uso de “tracers/marcadores” para serem misturados e recuperados;
- Uso de NIR’s e comparação do Coeficiente de Variação (CV) dos nutrientes das amostras
Nossa equipe da Nutron-Cargill tem muita experiência em aplicar testes de mistura para que se consiga obter os melhores padrões de carregamento, essa verificação deve ser feita por equipamento de mistura e comparando estratégias diferentes de carregamento, como inverter ordem de carregamento, ou variar tempo de mistura e/ou capacidade de enchimento do equipamento.
Segue exemplo de gráfico discutido após teste a campo em clientes, onde foi comparado o teor de matéria seca (MS) de 15 pontos amostrados equidistantes ao longo da descarga, sendo que foram utilizados 4 tempos de misturas diferentes 3, 4, 5 e 6 minutos (isso no mesmo equipamento). Chama a atenção a redução da amplitude (diferença de máximo e mínimo) conforme aumentou-se o tempo de mistura, assim como o CV médio da MS dos 15 pontos amostrados diminuiu consideravelmente, mostrando que foi entregue dieta no cocho com menor variação com uma batida de 6 minutos versus 3 minutos. Para esse teste nossa equipe usou NIR’s portátil calibrado para dieta total.
De forma geral, agrupando as informações das pesquisas com o conhecimento da nossa equipe técnica de campo, seguem algumas recomendações gerais para se estabelecer um bom processo de carregamento que permita a padronização na fabricação de dietas, mesmo sabendo que se deve avaliar caso a caso as operações:
- Iniciar com ingredientes de partícula grande – densidade baixa (feno/bagaço);
- Carregar em ordem próxima Ingredientes com tamanhos/densidades similares;
- Colocar os ingredientes de menores inclusões ao meio da ordem de mistura;
- Deixar de 1 a 3 minutos de batida seca antes de acrescentar ingredientes úmidos;
- Deixar ingredientes mais úmidos para o final da ordem;
- Deixar ingredientes líquidos por último;
- Respeitar o tempo mínimo de mistura definido pelo fabricante do equipamento;
- Utilizar em cada batida de 50 a 80% da capacidade do equipamento;
Desta forma, fica claro que o processo de carregamento está muito mais ligado ao modus operandi da turma “racional”, onde respeitar a receita, entender as características dos ingredientes e equipamentos, seguir as ordens e processos de mistura são pontos chaves para garantir que todos animais recebam a mesma dieta 24h/7d. E que métodos de checagem existem e precisam ser usados para que possa ser encontrada a melhor forma de fazer o carregamento na sua realidade. Pense nisso!
Bierman, S. (2008). Mixing integrity for ruminant diets containing by-products. In Proc. 69th Minnesota Nutrition Conference, (pp. 145-159). Minneapolis, Minn.: University of Minnesota.. Retrieved from: http://www.mnbeef.umn.edu/cattlefeeder/2008/CFD-Bierman.pdf.
Jordan, E. R. (2001). Managing mixing wagons for performance and health. In Proc. Mid-South Nutrition Conf. (pp. 47-56). Dallas, TX: Texas Animal Nutrition Council. Retrieved from: http://txanc.org/wpcontent/ uploads/2011/08/MixingWagons.pdf.
Oelberg, T. (2013). TMR mixing basics for consistency and high production. In Proc. Dairy Day at Miner Institute. Chazy, N.Y.: Miner Institute. Retrieved from http://www.whminer.com/Outreach/Proceedings%20for%20Dairy%20Day%202013.pdf
Rippel, C. M., Jordan, E. R., & Stokes, S. R. (1998). Evaluation of particle size distribution, and ration uniformity in total mixed rations fed in Northcentral Texas. Prof. Anim. Scientist, 14, 44-50.