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O que preciso saber sobre o tamanho de partículas na alimentação de vacas leiteiras para a obtenção máxima de saúde e produção

O que preciso saber sobre o tamanho de partículas na alimentação de vacas leiteiras para a obtenção máxima de saúde e produção

Quando se trata de alimentação de bovinos, precisamos revisar alguns conceitos e entender quem realmente nós alimentamos: o rúmen, isso mesmo, em nutrição de ruminantes a etapa inicial é alimentar adequadamente essa câmera fermentativa. O rúmen possui um ecossistema microbiano vasto com mais de 1 quadrilhão de microrganismos, dentre entres, os destaques são: protozoários, bactérias e fungos. Esses microrganismos produzem ácidos graxos voláteis (AGVs) que as vacas usam como fonte de energia e para a síntese proteica.

Toda essa população microbiana, em especial bactérias, quando passam do rumem para intestino são fonte de proteína (proteína microbiana); a principal fonte de proteína para vacas. E qual relação entre o rúmen e a fibra no aspecto da alimentação das vacas? Duas principais. A primeira, que pelas condições que vimos que há no rumem, através da fermentação este é capaz de usar fibra e assim torná-la nutriente disponível para animais. A segunda, que a fibra é fundamental para manter funcionamento adequado do rúmen. A manutenção do vasto ecossistema microbiano no rumem depende de pH do ambiente ruminal estabilizado.

Para prever essas respostas de pH ruminal dependemos de uma avalição conjunta da concentração química e física das partículas dos alimentos. A análise combinada (química e física) da fibra se trata do conceito de fibra detergente neutro fisicamente efetiva (FDNfe). Esse modo é eficiente para entender a capacidade de estimular a mastigação a produção de saliva e consequentemente a produção de bicarbonato de sódio que é essencial para tamponamento pH ruminal.

Para obter a estimativa de FDNfe precisamos então de duas análises – química, através da análise bromatológica e a física feita através da ferramenta Penn State Particle Separator (PSPS). O novo NRC ou NASEM 2021 traz um ponto importante aqui, entendem que pela falta padrão a métodos de análises do FDNfe optaram por usar o FDN de forragem (FDNf) para estimar a efetividade da fibra nas dietas. Existe uma forte correlação com pH ruminal e FDN da forragem. Ainda apresentam um novo conceito: FDN fisicamente ajustada, inclusive com um sistema que dispõe de aplicativo para cálculo do mesmo (MUNCH Effective Fiber App), sendo possível predizer o tempo de ruminação adequado e consumo de matéria seca para o pH ruminal desejado. Essa nova abordagem leva vários fatores em consideração e não deixa de considerar tamanho partículas (% dieta acima 19mm).

Na prática para entender outros pontos a respeito do tamanho de partículas e PSPS. No dia a dia formulamos dietas para vacas leiterias observando vários aspectos. A equipe Nutron, formula observando saúde ruminal de uma maneira bem ampla, através do indicador rumem healh index (rH index) que leva em consideração: tamanho partículas, estrutura delas, %FDN, moléculas alcalinas como amônia, bases e tampões e ainda correlaciona ácidos dos ingredientes, tipo de carboidratos não fibrosos e sua taxa digestão. Complexo, mas necessário. Não podemos esquecer que estamos falando saúde do rúmen, o “motor” da vaca. Essa é uma das premissas para uma dieta bem formulada.

 

Figura 1: Modelo predição de saúde ruminal, rumem health index (rH index)

Fonte: Cargill Animal Nutrition, 2023.

 

Outra análise fundamental que o tamanho de partículas pode oferecer, se trata de entender na prática como está sendo a qualidade de entrega da dieta. É uma análise de consistência e estabilidade da entrega dos alimentos. É avaliado 10 amostras da mesma mistura, onde condições de misturas excelentes tem um coeficiente de variação entre 1 a 3%, mas valores entre 3 a 5% são considerados bons e aceitáveis. A partir de 5% muitos pontos podem precisar de revisão, como tempo de mistura, sequência de adição de ingredientes, manutenção do vagão deficiente, processamento dos volumosos. O foco está no processo, se deve procurar onde está a oportunidade de melhoria.

Uma última análise que o tamanho de partículas pode oferecer através PSPS é avaliar a dieta consumida pelos animais. Não é desejado que as vacas selecionem e tenham consumo diferente da dieta que você está formulando. A avaliação aqui é comparação da dieta 1hora antes do próximo fornecimento versus a dieta fresca entregue. O objetivo é que não tenha uma diferença superior 20% no fundo da PSPS (abaixo de 4mm). Na pratica é comum que seleção aconteça por vários motivos de que levam a mistura ruim, mas um dos principais desafios nas fazendas são partículas longas oferecem oportunidades vacas selecionarem. Atenção ao tamanho ideal que não dever ser acima 5cm.

Não restam dúvidas que avaliar tamanho de partículas é fundamental e no futuro com avanço da tecnologia talvez possamos ter ferramentas digitais que possam nos ajudar a avaliar de forma precisa e rápida esse componente. Já possuímos estudos que tentaram com espectroscopia near infrared spectroscopy (NIR), mas não conseguiram até então boa correlação. Muito interressante seria se  pudéssemos fazer as análises através de imagem digital de um celular, acelerando e descomplicando para toda análises tamanho de partículas dietas em qualquer lugar. A cada dia a nutrição de precisão vem se destacando e as mudanças são contantes.

Renan Menegasso Bagio1,2 | Vitória Cristina Fortunato| Juliano Santos Gueretz1 | Fabiana Moreira1 | Elizabeth Schwegler1

  1. Pós Graduação em Produção e Sanidade Animal, Instituto Federal Catarinense
  2. Coordenador de Produtos – Cargill/Nutron
  3. Graduanda em Agronomia – IFC Araquari
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