O desafio das ondas de calor na produção de leite
O estresse térmico é uma realidade presente nas fazendas leiteiras do Brasil. A alta produtividade reflete em baixa tolerância ao calor das vacas. Isto é intensificado durante períodos mais quentes do ano, especialmente na primavera e verão, quando as temperaturas elevadas somadas a maior umidade do ar tornam um ambiente propenso ao estresse calórico.
O fato é que esse problema será mais frequente do que imaginamos!
As mudanças nos padrões climáticos estão aumentando a frequência, intensidade e duração de períodos de calor extremo. Essas modificações relacionam-se diretamente com a formação de ondas de calor. As ondas de calor são conhecidas como um período prolongado de 3 a 5 dias consecutivos de temperaturas elevadas, além do esperado para uma estação do ano. Nesse contexto, podemos observar no gráfico abaixo, que entre os anos de 2010 a 2020, a porcentagem de dias do ano em ondas de calor foi 3 vezes maior comparada ao período entre 1985 e 2009, indicando que além de frequentes, as ondas de calor, tornaram-se mais intensas e longas nos últimos anos.
Fonte: Manica et al. (2022).
Mas como as ondas de calor impactam a produção das vacas leiteiras?
As ondas de calor surgem sem uma adaptação fisiológica dos animais ao calor intenso, ou seja, elas se formam com rapidez e muito desafiadoras. Assim, quando as vacas enfrentam temperaturas acima da qual estão adaptadas, há perdas no conforto, saúde e desempenho dos animais. Em resposta ao calor intenso, observamos algumas respostas das vacas, como o aumento significativo na temperatura de superfície de pele, seguido pelo rápido aumento na taxa de respiração (maior que 60 movimentos/min), quando as vacas permanecem mais ofegantes. Conforme a perda de calor por respiração não é mais suficiente, então ocorre o aumento da temperatura retal. Neste caso, as vacas entram em estado térmico de alerta com temperatura retal acima de 39,5°C (o normal está na faixa de 37,5 a 39°C). O estado térmico de aleta indica que as vacas estão gastando mais tempo na tentativa de perder calor do que se alimentando. Ou seja, os animais tendem a ficar mais tempo em pé, e isso reduz a ingestão de matéria seca e o fluxo sanguíneo destinado ao úbere. Em consequência do menor consumo de alimento e menos nutrientes chegando na glândula mamária, ocorre significativa queda na produção de leite. No gráfico abaixo podemos observar a produção de leite antes e após uma onda de calor.
Fonte: Manica et al. (2022).
Neste estudo, as vacas da raça Holandesa apresentaram redução de 3,6 litros de leite, um impacto negativo de 20% no volume de leite. Quando somadas várias ondas de calor no ano, a perda na rentabilidade é ainda maior. Os períodos de ondas de calor também afetam diretamente a reprodução das vacas, reduzindo as taxas de prenhez e a fixação do embrião na parede uterina, prejudicando os índices reprodutivos das fazendas e elevando o DEL.
Finalmente, durante os períodos mais quentes do ano é importante proporcionar conforto aos animais, utilizando estratégias de ventilação, como o uso de ventiladores e aspersores, além disso, estratégias no manejo nutricional que podem minimizar os impactos do estresse térmico e aumentar a rentabilidade da fazenda nesses períodos desafiadores.
Referências
Herbut, P., Angrecka, S. & Walczak, J. Environmental parameters to assessing of heat stress in dairy cattle—a review. Int J Biometeorol 62, 2089–2097 (2018). https://doi.org/10.1007/s00484-018-1629-9
Manica, E. et al. Changes in the pattern of heat waves and the impacts on Holstein cows in a subtropical region. Int J Biometeorol (2022). https://doi.org/10.1007/s00484-022-02374-3.