Nutrição de precisão de bovinos de corte: o que realmente interessa?
Nutrição de precisão de bovinos de corte
Alguma dúvida de que vivemos na era da indústria 4.0? Tecnologias digitais, startups, inteligência artificial, big data, internet das coisas e outros jargões do mundo moderno ecoam cada vez mais fortes nos nossos ouvidos. E no agronegócio não é diferente. Já existem iniciativas digitais e várias startups focadas em encontrar soluções cada mais vez tecnológicas para ajudar na melhoria da vida no campo que, há pouco tempo, poderia ser considerada pacata! E na pecuária, como vai ser?
Pode ser que demore um pouco mais que na agricultura, mas já vemos a coisa acontecendo no mundo digital. Procure no seu celular e encontrará diferentes aplicativos já disponíveis, desde ajuda para avaliar o escore corporal de suas vacas, até para fazer a gestão do seu negócio pecuário. Entretanto, diríamos que poucas fazendas brasileiras estão preparadas para receber as tecnologias da era digital. A transformação ocorrerá, não há dúvidas, e de forma mais rápida que imaginamos. Por isso, devemos fazer a base, o dever de casa, antes que sejamos atropelados por essa locomotiva que já partiu e tem nossa fazenda como destino.
No momento atual, como a nutrição de precisão realmente pode nos ajudar? Não é novidade para ninguém que neste primeiro quarto do século XXI grandes avanços ocorreram na bovinocultura de corte nacional. A pecuária brasileira, com sua aptidão de produção essencialmente a pasto, teve nesse período uma relevante evolução tecnológica, que permitiu trazer para dentro de casa um aumento de produtividade para o pecuarista, geralmente associado a melhor produtividade.
Suplementação de precisão de bovinos de corte
Em meio a este cenário, está sendo cada vez mais comum falar em adubação de pastagem, suplementos proteinados ou protéico-energéticos o ano todo, confinamento a pasto, aditivos melhoradores de desempenho e inúmeras outras tecnologias e inovações que as universidades e a pesquisa privada tem trazido que, em sua maioria, permitem benefícios zootécnicos e econômicos de grande importância para o pecuarista.
De fato, o uso de tecnologia como a suplementação estratégica permite obter incrementos de produtividade. No entanto, sempre cabe a pergunta: mas qual nível de tecnologia a propriedade está pronta para absorver? Quais pontos a serem trabalhados, que seriam anteriores ou complementares, a colocar o pé no acelerador do aumento do nível de suplementação, por exemplo?
Para que se tenha uma suplementação de precisão, seja ela mineral, protéica, protéica–energética etc, três pilares são fundamentais:
- 1 – Disponibilidade de cocho disponível na fazenda: ponto crucial e com grandes oportunidades de melhoria, pois garantirá que os bovinos tenham consumo do suplemento e desempenho esperados. Além do comprimento do cocho, vale ressaltar a questão de como é o cocho, ou seja, fisicamente falando como está a sua situação/condição? Coberto, de tambor, lona, no chão, quebrado, cheio de lama ao redor, permite acesso aos animais de forma tranquila? Por mais incrível que possa parecer, se gasta muita energia e tempo tentando convencer aos pecuaristas sobre a importância de se ter estrutura de cocho condizente com o nível tecnológico da suplementação a ser usada. Embora tenhamos à nossa disposição inúmeros trabalhos científicos que comprovem o real benefício da suplementação estratégica sobre o desempenho dos bovinos de corte e a lucratividade do sistema produtivo, o que mais limita seu uso é justamente a falta de estrutura adequada. Um contrassenso em se falando de nutrição de precisão nos dias atuais.
- 2 – Capacidade logística: dependendo do nível de suplementação desenhada, será necessário o fornecimento diário do suplemento, uma vez que, a partir de uma suplementação equivalente a 0.3% do peso corporal dos animais, a oferta será o limitador de fornecimento, visto que a autorregulação passa a ser mais difícil. Outros suplementos como minerais aditivados e suplementos proteinados podem ser fornecidos pelo menos três vezes na semana, com exceção de minerais com tecnologias de impermeabilização, como o Probeef® Resist da Cargill Nutrição Animal – Nutron que impede que o suplemento mineral empedre ou vire uma pasta após receber chuva. O fato de manter sua integridade mesmo após a ocorrência de chuvas garante o consumo do suplemento pelos animais, que ingerirão os minerais e aditivos que precisam para ter desempenho adequado, especialmente no período de maior disponibilidade de pasto e, portanto, de maior potencial de ganho de peso.
- 3 – Oferta de pasto e o correto planejamento de disponibilidade de forragem ao longo do ano: fator que deve avaliar temperatura média da região, pluviosidade média, variedade forrageira disponível, categoria animal, sistema de pastejo etc. Este ponto é fundamental, pois a partir dele conseguimos ter previsibilidade de lotação e de utilização de suplemento adequado, uma vez que, dependendo do nível de suplementação escolhido, haverá ou não efeito substitutivo de pasto, o que começa a acontecer de forma mais significativa a partir de fornecimentos de suplemento por volta de 0.5 – 0.7% do peso corporal. Sem falar também dos afamados suplementos de alto consumo a pasto (até 2% do peso vivo do animal). A suplementação mais pesada permite uma menor dependência do pasto, porém com desembolso maior.
Vale a pena ressaltar que, segundo consultorias especializadas na área de gestão econômica, um ponto fundamental para que se tenha desempenho financeiro interessante da atividade de pecuária a pasto é que se tenha ganho médio diário relevante. Em épocas de baixo ganho de peso ou de ganho de peso igual a zero (seca com proteinado de baixo consumo) o custo da @ produzida a pasto é altíssimo, isso sem levar em conta os animais que perdem peso na seca, o famoso “boi sanfona”.
Após o planejamento citado anteriormente, a execução deve considerar o monitoramento de alguns indicadores básicos fundamentais, principalmente: pesagem dos bovinos e mensuração de consumo, uma vez que não se pode gerenciar o que não é medido. Aqui cabe a pergunta: quantas fazendas brasileiras possuem balança e fazem mensuração do ganho de peso dos animais em períodos estratégicos? 5%? 10%? Avaliação do nível de suplementação; e níveis adequados de minerais e aditivos no produto sendo utilizado: as exigências de minerais (especialmente os micro minerais) em sua maioria devem ser supridas 100% via suplemento mineral, o mesmo acontece com relação aos aditivos. De nada adianta optar por fazer uso de aditivo se o mesmo não estiver presente na dosagem adequada para que propiciem o desempenho planejado. E pasmem: o que mais tem no mercado brasileiro são suplementos com sub-dosagens de aditivos e minerais. E o pecuarista nem se dá conta disso, pois olha apenas o preço do produto e seu impacto no desembolso mensal.
Em suma, assim como outras unidades industriais que existem no mercado, para que se chegue a uma pecuária de precisão, o pecuarista deve considerar quais são seus objetivos, que ferramentas têm à sua disposição e qual a equipe que irá acompanha-lo para que tenha êxito durante o processo, para posteriormente partir para a execução e escolher quais serão os suplementos a serem trabalhados.
A pecuária de precisão não diz respeito ao nível tecnológico ou de suplementação que o pecuarista irá utilizar, mas à forma com que irá fazer com que seu projeto, independentemente do tamanho, seja sustentável; economicamente em primeiro lugar, e consequentemente, ambiental e socialmente. Vale lembrar que há projetos rentáveis com menor nível de suplementação como há projetos rentáveis e com alta produtividade por hectare com elevados níveis de suplementação.
Anônimo
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09/10/2018Anônimo
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11/10/2018