Importância de análise de micotoxinas na produção animal como estratégia de solução das micotoxicoses
Impossível pensar em uma estratégia nutricional para animais de produção, principalmente aves e suínos sem nos atentarmos para a qualidade de matéria prima dos ingredientes que compõe uma dieta ideal para máximo rendimento zootécnico. E quando mencionamos qualidade de matéria prima dos ingredientes, não podemos esquecer das micotoxinas, que estão presentes em 25% de todas as culturas do mundo, segundo dados da FAO. Em 2021 a Cargill Global Mycotoxins Survey detectou 72% de positividade para mais de uma micotoxina presente em mais de 328.000 analises em 54 países, corroborando com o cenário de presença de micotoxinas nos ingredientes.
As micotoxinas contribuem de maneira negativa para a qualidade dos alimentos e sobretudo interferem diretamente na saúde dos animais. As micotoxinas são metabólitos tóxicos secundários produzidos por fungos filamentosos (NOVINSKI, 2013; DILKIN et al. 2014). Os fungos crescem e se proliferam bem em grãos quando em condições ideais de temperatura, umidade e presença de oxigênio. A contaminação de rações e outros alimentos por micotoxinas pode variar de acordo com as condições ambientais, métodos de processamento ou produção e armazenamento. Vai também depender do tipo alimento, já que alguns grãos são substratos mais aptos que outros para o crescimento de determinados fungos (SANTURIO, 2000). Segundo Moreau et al. 2016, as micotoxinas são facilmente absorvidas, após a ingestão, pelo intestino delgado, principalmente no duodeno, podendo afetar órgãos como fígado e intestino, além de sistemas reprodutivo, imune e renal dos animais.
Das mais de 400 micotoxinas catalogadas, as aflatoxinas, ocratoxina, fumonisinas, tricotecenos e zearalenona são as mais importantes na produção animal. As perdas causadas por micotoxicoses podem ser observadas em aves, como baixa produção de ovos, redução no desempenho, hemorragias, má qualidade das carcaças, redução na fertilidade, e em suínos, inibição metabólica em vários tecidos, efeitos deletérios sobre a morfologia intestinal em animais de produção, efeitos nefrotóxicos, imunossupressores, carcinogênicos, redução da incidência e prenhez, desenvolvimento precoce das mamas, prolapso vaginal, atrofia testicular, edema vulvar, e ser potencializado de acordo com a idade, fase de vida, condições nutricionais e sanitárias dos animais.
O cenário que as micotoxicoses estabelecem na produção animal é bastante desafiador, diante disso, precisamos utilizar ferramentas, aditivos que impedem as micotoxinas de serem absorvidas pelos animais e estratégias de garantir boa qualidade de matéria prima, afim de minimizar os efeitos que impactam diretamente os índices zootécnicos.
Atentos a isso, parte da solução para as micotoxicoses é identificar, quantificar e entender qual o real desafio de micotoxinas nos alimentos, ou seja, o uso metodologias precisas que consigam mensurar quais micotoxinas estão presentes e suas concentrações, inferindo assim qual o possível dano a ser causado ao animal.
Atualmente as metodologias mais conhecidas disponíveis para analises quantitativas de micotoxinas nos ingredientes, são cromatográfica líquida de alta eficiência (HPLC), ensaio de imunoabsorção enzimática (Elisa), tiras de fluxo lateral (LFD) e tecnologia de espectroscopia no infravermelho próximo (NIR).
E como escolher qual metologia utilizar diante de tantas tecnologias?
Primeiro racional importante desta escolha é o entendimento que o comportamento das micotoxinas nos ingredientes/ ração é heterogêneo, ou seja, uma amostra coletada pode estar concentrada com mais micotoxinas em uma porção da amostragem do que outra. A melhor forma de mitigarmos o problema com a amostra, é termos um plano amostral com máximo de representatividade do material coletado, além de preferencialmente trabalharmos com ingrediente moído, desta forma conseguimos homogeneizar melhor a amostra e minimizar a heterogeneidade das micotoxinas. Com isso, sabendo que a variabilidade da amostra analisada pode ser alta, pela característica da micotoxina, é coerente escolhermos a metodologia que nos dê menor variabilidade.
Por fim, para a escolha da melhor metodologia de análise, devemos primeiro ter uma amostragem representativa do ingrediente analisado, escolher a metodologia com resultados mais precisos, ou seja, menor variabilidade, e se a opção for por testes rápidos, entender o processo de analise e o que apresenta menor possibilidades de erros, esta deve ser a escolha. Além disso, vale ressaltar que a escolha da metodologia é muito importante para ter análises confiáveis, mas saber interpretar os resultados e saber para que eles podem ser usados na produção animal é o grande ganho com as análises e gestão de micotoxinas dos ingredientes utilizados na fábrica de ração.