Fitogênicos: Aditivos naturais para melhorar o desempenho em bovinos leiteiros
A busca pelo uso de tecnologias para melhorar a produção de leite é bastante comum na pecuária moderna. E nesse cenário o uso de extratos botânicos é considerada uma alternativa interessante para apoiar a evolução da indústria leiteira no Brasil.
MAS AFINAL, O QUE SÃO FITOGÊNICOS?
Os fitogênicos são constituídos por substâncias bioativas derivadas de plantas. Porém estes compostos não se restringem aos óleos essenciais (OEs). Saponinas, flavonoides, mucilagens, taninos, substâncias pungentes e substâncias amargas também pertencem a este grupo. Isso explica o amplo espectro de modos de ação na produção animal (Figura 1), uma vez que cada grupo de substância apresenta sua especificidade.
Uma única planta pode produzir diferentes tipos de extratos ou substâncias. Por outro lado, um determinado componente ativo pode ser encontrado em diferentes plantas (como o timol, presente no tomilho e no orégano), tornando o fornecimento dessa substância mais flexível. Ao formular um produto fitogênico, algumas substâncias principais são identificadas como os componentes ativos para obter o modo de ação desejado. Eles são analisados e dosados nas diferentes matérias-primas, garantindo assim a consistência do produto, independentemente da planta de origem.
INGREDIENTES ATIVOS E TECNOLOGIA PARA MELHORAR SUA DISPONIBILIDADE
Com base na metodologia de extração, os componentes ativos podem ser diferentes. Se considerarmos o grupo das especiarias, é possível extrair oleorresinas ou óleos essenciais. As oleorresinas são uma mistura natural de OEs e resina extraída da fonte vegetal por extração com solvente, enquanto os OEs resultam da destilação a vapor, uma vez que não são miscíveis com água. Eles podem então ser analisados por espectrometria para determinar as diferentes substâncias que os compõem e para garantir que a composição esperada do aditivo fitogênico final seja atendida.
Após a extração, os componentes ativos devem ser armazenados e processados para fornecer o efeito esperado no animal. Os OEs são, por definição, componentes voláteis, de modo que pode haver perdas durante o armazenamento (degradação por oxidação, volatilização e luz) ou processamento da ração (aquecimento). Para evitar esse fenômeno, é possível encapsular os OEs, dessa forma, os componentes ativos são protegidos durante o processo de produção de ração, e são liberados lentamente fazendo com que haja uma difusão no trato digestivo, ou mesmo para garantir que a liberação ocorra no rúmen ou no intestino e não antes.
QUAL É A DIFERENÇA ENTRE FITOGÊNICOS NATURAIS E SINTÉTICOS?
Alguns produtos disponíveis no mercado baseiam-se em substâncias similares à natureza, enquanto outros são de origem natural. Como visto acima, a composição dos extratos vegetais pode variar, por isso não é fácil padronizar a composição dos OEs e garantir a estabilidade das características dos aditivos. Para reduzir a variabilidade da composição, as substâncias ativas identificadas entre os componentes principais, são quimicamente reproduzidos.
No entanto, os aditivos fitogênicos que utilizam extratos vegetais naturais mostram uma ampla gama de modos de ação quando comparados as substâncias idênticas à natureza (químicas). Esta vantagem baseia-se nos efeitos sinérgicos de todos os agentes contidos num extrato vegetal, não sendo reduzidos aos efeitos de uma única substância (Figura 2).
A Tabela 1 mostra que os OEs devem ser cuidadosamente selecionados. Neste exemplo, o OE aldeídico reduz a produção de amônia (NH3) de forma mais eficiente do que o OE fenólico. É interessante reduzir a NH3 no rúmen para obter melhor eficiência proteica, com aumento da oferta de nutrientes para o animal, aumentando a produção de leite e a produção de proteínas e reduzindo o nitrogênio ureico do leite.
Tabela 1: Efeito de diferentes óleos essenciais na produção de amônia (Delacon, in vitro)
Família de óleos essenciais | Efeito na produção de NH3 |
Óleo essencial sintético – Fenólico 1 | – 12.5% |
Óleo essencial sintético – Fenólico 2 | – 17.5% |
Óleo essencial natural – Fenólico 2 | – 30.0% |
Óleo essencial sintético – Aldeídico 1 | – 36.5% |
Óleo essencial natural – Aldeídico 1 | – 47.0% |
Óleo essencial natural encapsulado – Aldeídico 1 | – 50.0% |
QUAL A VANTAGEM DE UM PRODUTO COMPLEXO?
A combinação de diferentes extratos pode trazer valor agregado ao produto: existem alguns efeitos sinérgicos (ou antagônicos) entre várias subcategorias de ingredientes.
Usando o exemplo da redução de NH3 novamente, vimos que um OE aldeídico é mais eficiente do que um fenólico. A Figura 3 é um gráfico que mostra os efeitos de diferentes combinações de fitogênicos e o nível de NH3 in vitro por diferentes cores. De acordo com a escala, a mais vermelha, a redução mais fraca de NH3, e a mais azul, a redução mais forte do que o controle negativo. Cada eixo triangular representa a quantidade (de 0 a 100%) dos diferentes compostos de plantas considerados em todas as combinações possíveis entre dois óleos essenciais (OE 1 e OE 2) e taninos. Com base na escala de cores, várias conclusões podem ser tiradas desta figura:
- Cada composto tem um impacto positivo, quando usado individualmente, na redução de NH3, como mostrado em cada ângulo do gráfico.
- A combinação uniforme dos três compostos (33% de cada) leva a uma redução de NH3 menor do que cada substância individualmente, como mostrado no centro do gráfico. Isso significa que há um efeito antagônico entre essas substâncias.
- A redução de NH3 mais eficiente é obtida quando não há o OE 2 na combinação, como mostrado na parte inferior do gráfico. A redução é mais importante na combinação entre o OE 1 e taninos, demonstrando um efeito sinérgico entre eles.
Portanto, uma avaliação completa dos ingredientes individuais e sua combinação deve ser realizada para obter um produto complexo de alta qualidade com base nos efeitos desejados sobre o animal.
Uma vez que esses objetivos são determinados, os extratos de plantas individuais são triados com base na literatura, disponibilidade e avaliação dos extratos vegetais no mercado, no status de regulamentação das substâncias e na experiência interna para formular combinações. Os protótipos são produzidos em pequena quantidade para verificar as características galênicas, como tamanho de partículas, cor, cheiro etc., antes de serem aprimorados para fins de teste in vitro e / ou in vivo. Esses testes destinam-se a gerar dados sobre a eficácia do produto, ajustar as recomendações e dar confiança aos clientes (Figura 4).
Portanto, a formulação de um aditivo fitogênico para nutrição animal é o resultado de ingredientes fornecidos pela natureza e sua potencialização por identificação, seleção, combinação e encapsulamento.
COMO OS FITOGÊNICOS PODEM AJUDAR A MELHORAR O DESEMPENHO DE VACAS LEITEIRAS?
Os aditivos fitogênicos desenvolvidos pela Delacon – Cargill podem endereçar diferentes desafios. Melhoram a palatabilidade da ração, melhoram a eficiência alimentar através de uma melhor eficiência energética e proteica em todos os tipos de dietas, além de apoiar a resiliência animal.
A melhoria da eficiência proteica contribui favoravelmente para a margem do produtor (por exemplo, menos proteína necessária para a mesma produção) e o meio ambiente devido à redução das perdas nos excrementos.
Em vacas leiteiras, os ensaios resultaram em aumento da produção e proteína do leite, além de melhor desempenho sob condições de estresse térmico. Os fitogênicos cuidadosamente selecionados melhoraram o status geral dos animais em escore de condição corporal, redução de células somáticas, comportamento alimentar, ruminação e pH ruminal, inflamação e status antioxidante quando adicionados a uma dieta equilibrada, em comparação com um controle negativo. Também foram realizadas comparações com antibióticos promotores de crescimento, como a monensina e os resultados mostraram desempenho semelhante entre os animais dos diferentes grupos, levando a considerar os fitogênicos como um potencial alternativo natural a esses compostos.
Com base nesses resultados positivos, e em diferentes ensaios, é possível reformular dietas reduzindo o teor ou perfil de proteína, mantendo a produção de leite em comparação com a dieta inicial. Isso permite maior flexibilidade na seleção de matérias-primas para formulação, melhorando assim a margem dos produtores, reduzindo o custo da ração.
Com o poder natural das plantas, explorando e documentando seus modos de ação para a nutrição animal, estamos em um caminho mais natural para melhorar o desempenho leiteiro.