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Desmame precoce e o aumento da eficiência do par vaca-bezerro: em quais situações posso utilizar essa ferramenta na fazenda?

Desmame precoce e o aumento da eficiência do par vaca-bezerro: em quais situações posso utilizar essa ferramenta na fazenda?

Repare que no título do texto utilizamos a palavra “ferramenta” para se referir ao desmame precoce, técnica de manejo na qual apartamos a vaca da cria entre 2 e 4 meses após o parto, portanto bem antes dos 7-8 meses, período mais comum no Brasil para o desmame convencional. Uma “ferramenta” no sentido figurado é um “meio que se usa alcançar um objetivo, fim, propósito”. Traduzindo para o nosso tópico, a técnica deve ser aplicada para alcançar um objetivo produtivo na fazenda, o que na maior parte das vezes é o aumento da eficiência reprodutiva das fêmeas. No entanto, vale ressaltar que, como uma ferramenta, a utilização do desmame precoce não é a “solução da lavoura” para 100% do gado, todo o ano, mas sim para circunstâncias em que o pecuarista e sua equipe perceberem que tem uma oportunidade de ganho produtivo e que a técnica poderá ajudá-lo a chegar lá. O objetivo desse primeiro artigo é justamente apresentar algumas situações possíveis de uso e o que o pecuarista pode esperar de ganho produtivo nessas situações. Vamos lá:

Quais benefícios posso esperar com o uso dessa ferramenta?

  • Melhor performance reprodutiva
    • Balanço energético positivo, animais saem do anestro pós parto mais rápido;
    • Recuperação de reservas corporais (variável, mas entre 20-60 Kg);
  • Efeito residual: melhor performance na próxima gestação e prenhezes subsequentes;
  • Mais produção: mais prenhezes e Kg de bezerro desmamado ao longo da vida produtiva.

 

Dentre as principais oportunidades para uso do desmame precoce, podemos destacar:

  • Recuperar o escore corporal de multíparas para a estação de monta;
  • Primíparas!
  • Regiões desafiadoras, como o Pantanal;
  • Oportunidades pontuais:
    • padronizar a condição das fêmeas de alguns lotes pontuais;
    • aumentar a lotação na fazenda;
    • Fêmeas vazias que serão descartadas.

 

Sabemos que existe uma relação direta entre ECC (escore de condição corporal) das fêmeas na estação de monta e índices reprodutivos importantes, como taxa de prenhez, taxa de prenhez no início da estação, número de animais desmamados e daí por diante. Reprodução é artigo de luxo para os animais, e o relógio hormonal interno das fêmeas só vai funcionar bem quando sentir que não faltará nutrientes para a própria fêmea. A figura 1 abaixo mostra bem esse efeito. Além do benefício imediato para a fêmea na estação de monta, existe um efeito residual, ou seja, para as próximas estações é bem provável que os animais tenham escore melhor, sem precisar repetir o desmame precoce.

 

       Figura 1 – Relação entre ECC e porcentagem de animais em estro.

        Adaptado de Rutter and Randel, 1984.

 

Portanto, uma das principais oportunidades para uso do desmame precoce é justamente quando o pecuarista percebe que por algum motivo (falta de capim; necessidade de ajuste de lotação; reforma de pasto) o escore da vacada toda, ou alguns lotes, não vai (ao) recuperar a tempo da estação de monta, e pode-se então lançar mão do desmame precoce (claro, desde que tenha condições de estrutura e manejo para isso. Vamos falar sobre os pontos criticos no próximo artigo).  Lembre-se, o desmame precoce feito com bezerros de aproximadamente 2-4 meses de idade deve acontecer no período chuvoso na maior parte do Brasil (Figura 2), o que traz grandes desafios de manejo, comuns do período chuvoso e conhecido de todos.

 

Figura 2 – calendário reprodutivo comumente encontrado no Brasil, destacando o período provável do desmame precoce entre Novembro e Dezembro.

 

Primíparas! Essa categoria apresenta demanda alta de nutrientes, já que além da 1) manutenção basal, está em 2) crescimento, precisa 3) produzir leite para a cria, e, se possível 4) voltar a ciclar e emprenhar. As demandas, seguindo ordem numérica de prioridade, colocam a volta a reprodução em último na lista, portanto liberar a demanda de aleitamento das fêmeas aumenta o aporte de nutrientes para outras demandas, como a reprodutiva.

Regiões como o Pantanal (Figura 3) apresentam alto desafio para o gado, já que em boa parte do ano as pastagens nativas acabam sendo inundadas com as cheias, reduzindo assim a oferta de nutrientes para a vacada.

 

Figura 3 – Vacada em região alagada do Pantanal. Oportunidade para uso do desmame precoce.

Fonte: Equipe Cargill/Nutron

 

Nesse cenário o uso do desmame precoce pode trazer muitos benefícios para os pecuaristas. Existe uma boa quantidade de estudos avaliando o retorno produtivo dessa ferramenta quando usada no bioma Pantanal, e a figura 4 abaixo apresenta um comparativo.

 

Figura 4 – Desempenho aos 10 meses de bezerros nelore ou cruzados submetidos ao manejo de desmame convencional ou precoce com baixa e alta energia.

           De Oliveira et al., 2019

 

Por fim, mas não menos importante, existem diversas oportunidades pontuais para usar o desmame precoce na fazenda. Por exemplo, como forma de engordar vacas de descarte mais rapidamente (Figura 5). Além disso, o desmame precoce pode ajudar o pecuarista caso queira aumentar a lotação da fazenda, ou mesmo na padronização dos lotes de fêmeas em reprodução, e pra isso usa a ferramenta em lotes específicos.

 

Figura 5 – Fêmeas de descarte em engorda intensiva.

Fonte: equipe Cargill/Nutron

 

Esses são apenas algumas oportunidades que casam bem com desafios encontrados comumente em uma fazenda de cria, e que mostram como o desmame precoce nada mais é do que uma ferramenta, seu uso ou não vai depender de cada situação.

 

*No próximo artigo vamos tratar da implementação do desmame precoce e dos pontos críticos para o sucesso dessa ferramenta.

 

Referências:

De Oliveira et al. 2019. Productive performance of pre-weaned calves reared in the pantanal. Cienc. anim. bras., Goiânia, v.20, 1-12. DOI: 10.1590/1809-6891v20e-51187

Rutter LM, Randel RD. Postpartum nutrient intake and body condition: effect on pituitary function and onset of estrus in beef cattle. J Anim Sci. 1984 Feb;58(2):265-74. doi: 10.2527/jas1984.582265

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