Conceito e Importância do uso de eubióticos na produção de suínos: Por que devemos considerar o uso desta ferramenta?
Segundo informações da World Organization Animal Health (WOAH – fundada como OIE), a cada ano é estimada uma perda em torno de 300 bilhões de dólares devido a doenças em animais de produção. Este dado além de alarmante, traz à tona diversas leituras em relação a como o mundo vem lidando com este tema. Alguns pontos endereçam questões que vem sendo muito discutidas dentro das principais estratégias de ações relacionadas à Food and Agriculture Organization of the United Nation (FAO) nos próximos dez (10) anos, que estão relacionados à Resistência antimicrobiano (AMR), Food Safety e o conceito de One Health (Saúde Única). Além disso, um dos pontos que não podemos deixar de abordar é em relação à perda de oportunidade de um trabalho focado em prevenção, deixando muito claro a necessidade de mudarmos a forma como ainda é enxergada a produção animal.
Neste contexto tecnologias aliadas à produção passam a ter uma grande relevância. É de comum conhecimento que dentro das estratégias das autoridades globais representadas pela FAO, WHO, WOAH a restrição ao uso de antimicrobianos já é uma realidade, e que para que ela seja implementada de maneira programada e organizada sem que haja um impacto muito acima do esperado, é necessário um aprendizado e desconstrução de muitos conceitos aprendidos ao longo dos anos.
Dentro deste cenário, o conceito da introdução do uso de eubióticos na produção animal, mais especificamente, em suínos, precisa ser discutida e colocada em prática em uma ordem lógica pensando em todo o benefício que estas ferramentas podem trazer quando se pensa em equilíbrio de produção. Os eubióticos por si, se trata de uma classe de aditivos, compostos por diversas categorias:
- Bióticos (família composta por 4 diferentes tipos):
- Prebioticos: substratos nutritivos de componentes inertes que permitem a nutrição interna e externa da microbiota do trato gastrointestinal presente.
- Probióticos: microrganismos vivos, que quando administrados em quantidade adequada conferem benefícios contribuindo com uma melhor saúde do animal.
- Simbióticos: mistura de microrganismos vivos (Probióticos) com substratos inertes (Prebioticos) que contribuem com um melhor equilíbrio da saúde do animal.
- Posbioticos: uma preparação contendo microrganismos inanimados e/ou seus componentes que confere benefícios sobre a saúde do hospedeiro.
- Fitogênicos (combinação específica e baseada em ciência de compostos bioativos obtidos de plantas com eficácia comprovada e benefício sustentável aos animais, homem e ambiente).
- Óleos essenciais
- Extratos de plantas
- Mucilagens
- Substâncias pungentes
- Ácidos orgânicos (além de melhorar a absorção de nutrientes, auxiliam no controle de contaminações microbiológicas, pois agem diretamente sobre bactérias patogênicas reduzindo o pH do interior da célula a nível intestinal). Os principais ácidos utilizados na produção de suínos são:
- Ácido láctico
- Ácido propiônico
- Ácido butírico
- Ácido fórmico
- Ácido acético
- Ácido cítrico
Cada tecnologia desta citada acima possui uma origem e benefícios específicos relacionados à modulação da microbiota, contribuindo com uma maior diversidade e melhor proporção de bactérias saprófitas, melhorando a integridade intestinal. Isto permite que o organismo exerça funções importantes para uma melhor homeostase corporal. Esta modulação faz com que o animal esteja imunologicamente mais bem preparado para os desafios presentes dentro da produção e que tenham uma recuperação mais rápida.
Em decorrência disso, se torna muito interessante a aplicação destas tecnologias dentro de toda cadeia de produção, principalmente, em momentos mais críticos, com o conceito do início do uso a partir das leitoas de reposição. Isto se torna importante, uma vez que ao iniciarmos a modulação da microbiota desde o início da vida produtiva da fêmea. Este benefício de modulação da microbiota será aproveitado não somente por elas, mas também será transferido durante a fase de gestação em suas respectivas progênies através do mecanismo de imprinting gênico, carregando com isso benefícios desta modulação ao longo da vida dos leitões. Isto a médio, longo prazo, contribuirá não somente com uma melhor modulação da microbiota do indivíduo, bem como da modulação do microbioma da granja como um todo. Resultados preliminares de estudos recentes demonstram um benefício do uso dos eubióticos em matrizes e em leitões de fase de terminação, entretanto, quando este uso é associado em matrizes e nas demais fase de produção subsequentes, este efeito se torna cumulativo, demonstrando um efeito sinérgico da tecnologia.
Diversos estudos já demonstraram uma grande associação entre uma microbiota saudável e um maior resistência à desafios entéricos. Entretanto, mais recentemente tem sido entendida uma associação entre microbiota intestinal saudável e a mitigação de desafios respiratórios, o que nos leva a crer ainda mais sobre a importância desta modulação sob o ponto de vista holístico em termos de saúde. Isto demonstra uma importância de um melhor entendimento relacionado ao eixo intestino cérebro, mas também sobre o eixo intestino pulmão.
Um melhor equilíbrio do sistema imune do animal, fará com que desafios entéricos, respiratórios e sistêmicos reduzam em frequência e intensidade. Isto associado a manejos básicos bem estabelecidos contribuirão com um melhor ambiente para os animais, e consequentemente, a redução gradativa da necessidade de uso de antimicrobianos, tornando a produção cada vez mais sustentável.
Referências
- https://www.woah.org/en/animal-health-through-an-economiclens/?fbclid=IwAR1RsPAp9ZHf6XytT25Vg-gVDfNk27Wdfpu-hoN891jJzI0AOjKmH9bV4g4
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- Megan C. Niederwerder. Role of the microbiome in swine respiratory disease. Veterinary Microbiology 209 (2017) 97–106
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