13/05/2022

by Karolyne Pazine

Como iniciar o Programa de Precocinhas?

A margem líquida da pecuária no Brasil foi reduzida em 68% desde os anos 90, década em que o resultado líquido da operação girava em torno de 45%. Atualmente, a lucratividade está em torno de 18% (IEA/CEPEA). Essa realidade faz com que os pecuaristas busquem alternativas para aumentar produtividade e manter o negócio atrativo. Uma das maneiras de alcançar esse objetivo é intensificar a fazenda para produzir mais em menos tempo e/ou em menor área, obtendo maior eficiência dos processos, bem como maior rentabilidade.

No rebanho de cria, uma das formas de intensificar a produção é fazer com que a idade ao primeiro serviço seja a menor possível. Essa variável nos mostra a precocidade das novilhas e o quanto estão sendo desafiadas a reproduzir mais cedo. A média de idade ao primeiro serviço no Brasil é de 24 a 26 meses para fêmeas zebuínas (USDA 2019) e podemos, portanto, considerar fêmeas precoces as que entram em serviço entre 13 e 15 meses.

Definido o objetivo relacionado à idade das fêmeas precoces, devemos levar em consideração alguns fatores antes do início do Programa de Precocinhas na Fazenda: a genética dos animais, a sanidade e o planejamento nutricional da desmama até uma concepção como primípara.

O fator genético é essencial para o sucesso da estratégia. Atualmente, temos rebanhos Nelore sendo selecionados para precocidade com fêmeas com probabilidade de prenhez aos 14 meses. Para essa precocidade selecionada poder ser expressa, não basta a fêmea ter peso; ela deve ter condições fisiológicas adequadas para ser inseminada precocemente. O protocolo sanitário utilizado deve ser adequado para esta categoria, pois possuem imunidade menor que uma vaca adulta por serem animais jovens. Já o planejamento nutricional irá depender do peso à desmama das bezerras, das condições de pasto disponíveis, do objetivo de peso e do escore de condição corporal no momento da estação de monta. Estudos apontam que novilhas Nelore devem ter entre 60 e 65% do peso adulto no momento da inseminação, o que equivale a um animal de 280 a 300 kg na estação de monta.

Agora que temos idade e peso que devemos atingir para que a probabilidade de sucesso seja maior, podemos avaliar qual estratégia nutricional utilizar para alcançar os objetivos. Considerando as variáveis idade e peso, quanto maior o peso à desmama, menor será o desafio para alcançar os 290 kg aos 14 meses de idade, visto que a diferença em kg entre o peso à inseminação e peso à desmama é menor.

O desafio da novilha refere-se ao ganho médio diário (GMD) que ela necessitará atingir para chegar ao peso esperado na estação de monta: quanto menor o GMD, menor será o desafio nutricional. O cálculo para definir o GMD para alcançar o peso na estação de monta é feito da seguinte forma:

Por exemplo: no caso de uma novilha desmamada em Março com 199 kg e que apresenta objetivo de peso na estação de monta de 290 kg, será necessário um GMD de 0,425 kg do desmame até a estação de monta. Um plano nutricional adequado para obtenção desse desempenho deverá então ser realizado, levando-se em consideração a condição do pasto e insumos disponíveis para suplementação.

Com objetivo de apresentar a relação entre o período de nascimento e o peso ao desmame de bovinos de corte da raça Nelore, Queiroz et. al. (2019) avaliaram 260.832 animais pertencentes ao banco de dados da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) entre os anos de 2014 e 2018. Com base nos resultados encontrados por Queiroz et.al. (2019), montamos a seguinte tabela, considerando o peso das fêmeas ao desmame em cada mês e o cálculo do GMD necessário para atingir 290 kg no início da estação de monta:

Tabela 1. Peso à desmama, objetivo de ganho médio diário para atingir 290 kg na estação de monta e idade, em meses, na estação de monta de Novilhas Nelore.

Pode-se observar na Tabela 1 que o objetivo de GMD para atingir 290 kg na estação de monta aumenta em função do mês de desmama e peso à desmama. Para alcançar o objetivo de GMD, é necessário um plano nutricional direcionado para essa categoria de animais e, quando possível, gerar um plano conforme o mês da desmama. O plano nutricional deve levar em conta não somente o mês e peso à desmama, mas também as condições de disponibilidade da forragem, estruturas física e operacional da fazenda, dentre outros pontos que somente podem ser elencados após avaliação no local.

Além do peso na estação de monta, as condições fisiológicas da fêmea devem ser avaliadas. Para tanto, é necessária uma avaliação do sistema reprodutivo da fêmea por ultrassonografia, o que trará informações sobre ela estar ou não apta à reprodução. Quanto maior a idade, maior é a chance de as fêmeas estarem aptas à reprodução.

Um erro comum visto em fazendas que implementam o Programa de Precocinhas é tratar bem as fêmeas apenas até a inseminação. Devemos lembrar que essa categoria ainda está em fase crescimento durante a gestação, aleitamento e, muitas vezes, terá seu crescimento finalizado somente na segunda gestação. Ou seja, a demanda de nutrientes dessa categoria de fêmeas é maior que uma vaca adulta, que não mais demanda nutrientes para seu crescimento, por exemplo.  Concluímos então que ter um planejamento nutricional desde a desmama até sua segunda cria é essencial para mitigar o risco de a precocinha não repetir cria dentro da próxima estação de monta.

Cada fazenda tem sua própria realidade que deve ser levada em conta ao se montar o Programa de Precocinhas.  No entanto, ao avaliarmos a estratégia aqui proposta, fica claro que as novilhas “do cedo” têm maior potencial de se tornarem precocinhas por apresentarem um menor desafio de GMD entre a desmama e a estação de monta, além de idade mais adequada no momento da inseminação,  apresentando assim maior chance de prenhez.